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2 anos de Terra de Mulher Bonita

  • Foto do escritor: Pivete
    Pivete
  • 26 de mai. de 2024
  • 5 min de leitura

Me encontro recentemente ouvindo repetidamente Felipe Vaz e sua terapia em “Terra de Mulher Bonita”, digo ser terapia, por ser um tratamento para uma doença — talvez a cura — que afeta milhões de crias da Baixada Fluminense: a falta do amor, em uma terra aprisionada a um retrato maquiavélico onde impera a tristeza, pobreza e violência, algo que é inegavelmente uma ilusão elitista.


 Em nossos lares, ruas, bairros e cidades, existe amor; um amor que muitas vezes não tem tempo de se expressar ou apenas não é a prioridade no momento. Somos filhos de pais que não aprenderam a expressar seus sentimentos, que vendem sua força de trabalho em um ritmo frenético e predatório, que na maioria das vezes aprenderam na violência a engolir seus sentimentos e vontades em prol de um suposto “progresso”; uma dignificação a partir de um ideal de trabalho, engolindo teologia da prosperidade todo culto de domingo. 



Talvez amar seja um privilégio, em um mundo que não é mais violento do que antes — não se engane — mas é televisionado, noticiado de forma sensacionalista, para te colocar medo, pois segurança é uma das maiores fontes de capital político de todos os benditos lugares desse grande Rio de Janeiro. Você tem medo do seu vizinho, tem que ter mesmo, você já não passa tanto tempo na rua, não vê seus amigos com frequência, só se relaciona com uma tela iluminada. Se você mora em uma das cidades mais ricas e populosas desse “maravilhoso” fluminense, já era, você tem mais e mais notícias, assaltos, páginas de Facebook, operações, Tino Junior, guerra de facção, “Balanço Geral” e milícia. Com tanta coisa ruim, fica realmente difícil focar em algo belo como o amor. O amor em sua essência, não essa amarração tóxica que vocês tentam vender como relacionamento. 


Quem sou eu para julgar o “amor” alheio, ou “analisar” uma obra tão cheia de significados como “Terra de mulher bonita” de Felipe Vaz, caxiense, que começa seu álbum com um manifesto ao amor em terras baixadenses. Ele tem que falar o óbvio, é necessário, pois esse lado do cartão postal, pelo visto, para maioria, é incapaz proporcionar referências positivas. Uma terra que tem tanto ou mais história que a capital, sendo recanto de gente que cria, pensa e se relaciona. Que ama, chora, sorri e na nunce desses sentimentos cria obras tão ou quão magníficas. 


“(Sic) Eu fico puto como a poesia do Rio de Janeiro se destina restritamente, às praias, bares e lugares da burguesia carioca. A gente da baixada, a gente de Caxias, ama, se apaixona, chora, fica triste. Conhecemos nosso grande amor num bar da cidade, e quando perdemos outros amores é na igreja do bairro que acontece a Missa de Sétimo Dia. Mas se o Rio é tão periférico, por que ouvimos tanto sobre o Leblon, Ipanema, Copacabana? Nós somos o que vivemos, e devemos transmitir isso. O lugar onde a gente vive também é bonito. É possível falar sobre amores, tristezas, medos, inseguranças… tendo como cenário Duque de Caxias.

YGÛASU (Felipe Vaz)



Olha isso, em uma pequisa rápida por “Duque de Caxias” o algoritmo — sim, estou em uma guerra contra a máquina, pique Morfeu em Matrix. Esse safado do algoritmo, salafrário, pilantra, gera resultados da prefeitura, da cidade e do milico genocida — não é o Bolsonaro, não cria, é aquele outro que dá nome a cidade — meio que eu ia difamar o algoritmo à toa, mas nunca é à toa, mas porque estou falando de algoritmo? Foca, Pivete! Se liga, em uma pesquisa rápida, já vi que Duque de Caxias é terra de Bruna Marquezine, Rojão, Ludmilla, MC Marcinho, Dennis DJ e o MC Kevin O Chris. Umas das poucas cidades da Baixada Fluminense que tem Biblioteca, Museu, Teatro, entre outras coisas, que conheço e posso dizer que é terra de mulher bonita sim! 


O que o Felipe Vaz fez nesse álbum aqui é brincadeira, tem uma faixa melhor do que a outra, uma produção musical sinistra e muito gostosinho para ouvir fazendo qualquer coisa. Escuto direto, sem falsa modéstia, escuto “para um crlh”. E são todas, ouço soltas ou na ordem do álbum, já falei de “Igreja de São Jorge” uma baladinha deliciosa, sendo extremamente viciante, com um audiovisual impecável, uma das coisas mais belas produzidas. Aí ele já solta um “miami bass”, pique anos 90, com Ryan Santos, que deixou tudo numa vibe de da inveja no DJ Marlboro. 



E chega a “São Cristóvão”, meu pai do céu, que letra amigo. Esse violãozinho só cadenciando, até o refrão que o “Felipinho” dá seu nome, endereço, CEP, foto 3x4… O amigo sabe fazer música de amor, não é nada simples, é uma construção poética que ao escutar toda aquele sentimento que você reprime no seu âmago, solta para fora, explode de emoção. Falo verdadeiramente que essa é uma das músicas mais lindas que ouvi recentemente, e não é pagando pau não, eu recentemente só estou escutando RAP, exceto quando é o momento de apreciar a obra do nosso caxiense preferido. 


“… São Cristóvão já me conhece
Vou até a pé em prece
Minha vida é você.”
SÃO CRISTÓVÃO
(Felipe Vaz)

Todas são ótimas, um dia prometo que faço algo ainda mais extenso para esse álbum, se pegar legal, da para extrair tanta coisa, que da para fazer uma TCC sobre “Terra de Mulher Bonita” de Felipe Vaz. Mas antes de terminar essa “resenha” espontânea, que pensei por semanas e escrevi em menos de uma hora, tenho que falar de mais algumas:


 “Ela” é linda demais, eu não sei quem fez segunda voz — acredito que seja ele mesmo —, mas meu deus, que junção, que lindeza. Esqueci de falar do trabalho impecável que o Buzu fez nesse álbum, esses sintetizadores, que perfeição de produção. Felipe descreve “ela” que pula carnaval de vestido terra azul, com cabelos enroladinhos igual o dele. Que sensibilidade, meus amigos, me empolguei aqui, com certeza umas das mais lindas do álbum. O final é insano, tá, amigo é perfeccionista, o instrumental tá brabo até o último segundo. 



Olha a sacanagem que o Felipe faz conosco, depois do “Ela” que já deixa você pensando em todos os amores que já vivenciou e os que imaginou, ele tira da manga mais uma “Pauliceia”, com a companhia da voz particularmente bela da Clara Bastos. É para deixar os cria de berço, chorando igual um bobinho, querendo viver uma história de amor. “Pauliceia”, que me arrepiou depois que percebi ser uma história de amor tipo a do velhinho de “Up: Altas Aventuras”, quem não quer viver um amor longínquo, só não tem fim perante a azeda certeza da morte. O amigo não brinca em serviço e ainda chama a Clara, para ser a segunda voz desse dueto que fala sobre amor, memória, ancestralidade. 


Tem “BICHO HOMEM BICHO FLOR” com  Junior Capelloni é uma exaltação a ancestralidade, memória, de uma terra preta, de gente que construiu tudo isso aqui no suor. 


Finalizo essa resenha com a minha preferida, nem sei se eu já tinha escolhido outra antes, todas são as minhas preferidas, mas essa é a “mais preferida de todas as preferidas”.  É ela, “Ensaio sobre o cais”, o que falar, esse som só corrobora com minha tese, que esse álbum é uma terapia, e digo mais, aqui você encontra remédios diversos para tratar dores especificas. Um ato de coragem ou de covardia, deixar alguém partir, ou se deixar partir. Às vezes, nesses ensaios do fim, o que resta é terminar mesmo, e decidir permanecer ou só ralar, não necessariamente, é um ato de covarde ou de corajoso, ou vice-versa. Talvez em busca de te ver bem, eu acredito que a solução é você viver sem mim. 


“Não imaginávamos nós descasal
Mas de tanto ensaiarmos nosso final
Se tornou normal não chorar um decorado fim
E quando o último ato estrear
A gente se estranha no escuro do cais
E os véus te escondem as rotas que eu fiz.”
ENSAIO SOBRE O CAIS
(Felipe Vaz)

Agradeço a Felipe Vaz, Margot Studio, Buzu. As participações do álbum e todos os que somaram direta ou indiretamente, e que fizeram parte dessa grande miscelânea de representações, reflexões, percepções, diálogos, histórias, amores perdidos e conquistados que fizeram parte do processo de criação dessa obra-prima. 






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