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BICHO SOLTO

  • Foto do escritor: Pivete
    Pivete
  • 2 de mar.
  • 3 min de leitura


Nas ruas de Vitória, estou me criando, mas não sou cria.


Safo, só observo.


Muitos movimentos podem deixar o bicho capixaba mais arisco.


Ele se esconde, se fecha, não é muito de conversinha. Tem que ser da roda, conhecer.


Como um grande motorista de Uber me disse:

“É igual à selva. Se você não for do bando, tem que dar seus pulos para conseguir entrar”.

E não é nem uma questão, porque não quero que seja fácil.

Quero que seja conquistado, um lugar entre a tribo.


E falando em tribo, um amigo que quero levar para a vida me contou que essa forma de se fechar do capixaba vem lá do "Descobrimento" – entre muitas aspas, mas fica mais fácil assim, querido leitor.


Os caras daqui eram uma tribo porreta, que não arredava o pé da ilha, defendia com unhas e dentes.

Demorou para aqueles colonizadores brancos e fedorentos botarem os pés aqui de fato.


Mas no carnaval essa figura muda, não muito, mas se abre.


Uma cultura que se mistura nas músicas de todas as regiões, nos sotaques da Bahia, Minas Gerais e Rio.

Que é originária, que tem suas práticas, que remete aos seus antepassados indígenas – que tinham marra e força para resistir até hoje, mesmo com uma memória covardemente apagada pelos colonos.


Esses primeiros dias de carnaval me mostraram uma figura diferente da que eu tinha cultivado dos capixabas.

Algo que já desconstruía diariamente com meus colegas de trabalho, que me mostraram que essa forma de lidar é cultural, uma forma de estar no mundo.


E tem seus motivos.


E digo, repito e se quiser eu falo de novo: é lindo sim!


E Vitória é tão mais gostosinha sem aquele monte de turista que coloniza anualmente as cidades turísticas desse país.


BICHO SOLTO


Depois de uma semana recheada de profissionalismo, eis que vem o carnaval.


Eu me domestiquei para fazer parte do jogo, mas não se engane, maluco, eu continuo bicho solto. Meu corpo pede carnaval, e eu vou.


Mesmo cansado, estava eu lá, na Rua 7. Rua do Bar da Zilda, rua de bares, distribuidoras e uma escadaria linda, que de "carioquice" batizei de mini Lapa.

Fui o primeiro a chegar.

E como o capixaba se fecha, e eu sou tímido, acabei deslocado até meus amigos chegarem.


E simplesmente, eu não consigo ficar de boa. Fico apreensivo:

“será que eles estão incomodados com um cara parado olhando para os lados, esperando um Uber de amigos que provavelmente vão se atrasar muito mais?”

Não sei, mas enfim chegaram. Fomos na Selva, um lugar muito gostosinho.

Simplesmente porque a entrada não te dá a dimensão do que é lá dentro.


Grande, espaçoso, organizado e com banheiros limpos.

Uma baladinha em um espaço fechado, mas com uma área aberta muito maneiro.


Nota 10, ao ter uma vista que, meus amigos, dá para ver toda a beleza das ruas de Vitória.


E eu saio até pouco aqui, principalmente porque a vida de CLT cansa.


Mas nessas andanças, sempre descubro algo novo.


E para um antropólogo, isso é o pão e a carne.

Cheguei em casa, tomei banho, comi algo, dormi, acordei, escrevi um texto para a Menó, comi, me arrumei e fui.


Pedi um Uber de forma desnecessária, parei no meio do caminho porque estava tudo engarrafado.


As margens do mar, na Av. Beira-Mar, atravessei os carros para enfim chegar ao trio que estava eletrizando o lugar.


A mesma avenida que pego para ir trabalhar, agora ressignificada.

O carnaval é um dos grandes momentos em que nossa população vive a cidade, invade ela, toma de volta. E nossa, vamos viver!


Cheguei no trio do AfroKizomba. Resistência preta. Trilha sonora incrível. Vocais. Instrumentais.

Comparando, tinha muita coisa como no Rio, mas não tanta energia assim.


Também não vi assaltos, brigas, golpes e outras coisas que fazem parte da cultura carnavalesca.


Dancei muito, bebi um copão – aspecto cultural que adquiri em SP – e acompanhei o bloco com energia e dedicação.


Quando o trio acabou, tinha outro para nos levar até o Sambão do Povo, o circuito do Carnaval de Vitória.


Chegamos ao sambódromo daqui, onde as escolas desfilam. Percebi que era um lugar para simplesmente dispersar o pessoal.


Mesmo com shows, o som era nitidamente baixo.

Ainda parei no Bar da Zilda para ouvir um samba, mas não aguentei muito e fui para casa.


Desci o morro, atravessei o centro e esperei meu ônibus na Beira-Mar.


Peguei meu busão, desci no meu ponto.


Em casa, seguro.


Um rolê que me fez amar mais esse lugar.



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