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COVID-19: a natureza não se importa

Por Thiago Aguiar Rodrigues[1]


Tragédias naturais para nós são completamente indiferentes para a natureza. A Natureza – aqui figurativamente personificada – nunca quis nada. Sequer detém autoconscientemente quaisquer quereres. Uma eventual catástrofe pandêmica ou uma folha seca que se destaca de um galho outoniço, para ela, a natureza, são simbolicamente a mesma coisa: nada. Não há punições e recompensas, não há trama dos deuses ou conspirações do cosmos. O que há é o encadeamento infinito e neutro de causa e consequência dos eventos naturais do universo. Os humanos que se virem se desejarem manter sua existência. A natureza não liga.


Este agente do caos natural, o coronavírus, mudou o mundo. Depois disso, despretensiosamente mudou a si mesmo para continuar nos infectando. Pura seleção natural permitida pelo descaso das autoridades de Saúde. O Brasil se empenhou bastante para ser ineficiente no combate à pandemia. Nossos representantes preferiram combater as medidas de controle do vírus e quase conquistaram a perfeita inépcia, não fossem alguns chatos exigindo sobrevivência.


Embora com cadeiras vazias à mesa que entes queridos ocupavam, nós sobrevivemos até aqui. No entanto, a pandemia não acabou. Atenuou (muito, é verdade) graças à vacinação, mas não acabou. Enfrentamos uma quinta onda provocada pela variante BQ.1, e houve um aumento de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave provocada por Sars-Cov-2 (vírus da Covid-19) em todas as faixas etárias no Brasil. Segundo dados da Fiocruz, nas duas últimas semanas epidemiológicas de novembro de 2022 e nas duas primeiras de dezembro de 2022, a prevalência entre os casos como resultado positivo para vírus respiratórios foi de 1,7% para influenza A; 0,1% para influenza B; 8,3% para Vírus Sincicial Respiratório (VSR); e 80,2% Sars-CoV-2. Entre os óbitos, a presença destes mesmos vírus entre os positivos foi de 1,7% para influenza A; 0,1% para influenza B; 8,3% para VSR; e 80,2% Sars-CoV-2. De longe, a Covid vem matando mais que a gripe. “Sem mencionar as sequelas, a chamada “Covid longa”, como, como fadiga, fraqueza muscular, cefaleia, ansiedade, problemas de memória e falta de ar. A relevância da doença ainda é bastante evidente, no entanto, nosso justificado e necessário otimismo não deve se traduzir em imprudência desmemoriada.


Temos 181,1 milhões de aplicações da primeira dose da vacina e 163,5 milhões da segunda dose, além de 101,6 milhões da primeira dose de reforço e apenas 38,7 milhões da segunda dose de reforço. Entre crianças, os dados são aviltantes. Apesar da aprovação pela Anvisa do uso emergencial da Coronavac entre crianças de 3 a 4 anos, apenas 7 de cada 100 crianças nessa faixa etária recebeu as duas doses da vacina. Para crianças entre 6 meses de idade e 4 anos, há a vacina pediátrica da Pfizer, porém o Ministério da Saúde adquiriu apenas um pequeno contingente para crianças com comorbidades, mesmo com a disposição de dados que informam que, entre 1° de janeiro e 11 de outubro de 2022, o Brasil registrou uma morte por dia entre crianças de 6 meses a 5 anos diagnosticadas com Covid-19. Um cenário deficitário e aquém de nossa capacidade de evitar o contágio e a morte por Covid -19, mas... Por quê?


Não se recomenda, neste momento, ações de lockdown, estamos falando de um velho conhecido das políticas públicas dos brasileiros: a vacina. Ora, se 181,1 milhões de brasileiros tomaram a primeira dose, conclui-se que não são negacionistas e avessos a vacinas. Já temos a ferramenta mais eficiente para lidar com a doença, a vacina, faz-se indispensável e premente instituir campanhas publicitárias massivas para incentivar a continuidade da vacinação e proteger de vez a população. Ainda são necessários esclarecimentos sobre cuidados sanitários simples, como higiene das mãos e uso de máscaras tipo PFF2 e N-95 em aglomerações. Também sobre os riscos da reinfecção da Covid-19 que, ao contrário da crença infundada de “imunidade natural”, aumenta a morbidade e mortalidade dos indivíduos com infecções pospositivas e produz temerosas variantes do vírus que põem em xeque todo nosso esforço. Não espere que a natureza seja piedosa porque já sofremos demais. Tampouco será punitiva pelos nossos pecados. Nós, humanos, é quem somos responsáveis por trabalhar com as condições de causa e efeito para o nosso bem-estar. Ou podemos não fazer nada, culparmos a natureza e nos posicionarmos como expectadores da tragédia. A natureza não se importa.

[1] Médico neurologista

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