No Natal lembre-se: pessoas passando fome existem, Papai Noel não.
- Pivete
- 24 de dez. de 2024
- 3 min de leitura

Não podemos achar normal viver em um mundo onde crianças passam fome, jovens perdem suas vidas no crime ou no subemprego, e balas perdidas encontram corpos infantis diariamente.
Em 2024, segundo o Instituto Fogo Cruzado, 25 crianças e adolescentes foram mortos na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Em Duque de Caxias, quatro dessas crianças tinham idades entre 6 e 11 anos, e duas foram atingidas por balas perdidas.
Enquanto isso, em Gaza, a revista The Lancet relata que as mortes diretas e indiretas podem chegar a 186 mil. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 97 mil palestinos ficaram feridos, com 25% desses casos envolvendo lesões permanentes, incluindo 3,5 mil amputações.

Vivemos no epicentro da violência e da desigualdade. “Esse é o primeiro genocídio televisionado da história em que as pessoas comuns têm ele todo dia em suas telas de celular. Elas precisam decidir: ‘estou a favor’ ou ‘estou contra’. Esse genocídio é épico, com a maior matança de crianças por milhão de habitantes na história moderna.”
Precisamos de um Papai Noel revolucionário, que dê aos pobres e não aos ricos. Num mundo à beira da ebulição global, com consumismo desenfreado e escolas sucateadas, que futuro estamos construindo para essas crianças?
Papai Noel é mó otário
Nunca deu presente para preto favelado. Talvez, como bom símbolo capitalista, ele despreze os pobres. Sei que em algumas comunidades a cor vermelha não seria bem-vinda, mas ele podia ao menos se esforçar para alegrar quem realmente precisa de um alívio nesta vida maldita.
Enquanto crianças brancas desfilam em shoppings decorados, as nossas estão vendendo balas ou roubando bolsas, caçando uma migalha de dignidade, e sendo espancadas por justiceiros em Copacabana. Nossas crianças são desumanizadas, adultizadas e punidas pela pobreza. São chamadas de criminosas enquanto o sistema que as violenta segue intacto.
Em 2024, 51 crianças e adolescentes foram atingidos por disparos de arma de fogo, 24 morreram, muitas por balas perdidas. Em São João de Meriti, uma criança foi alvejada com três tiros no pescoço enquanto outra foi ferida de raspão no mesmo dia. Essas crianças não são vistas como tal; para alguns, são apenas alvos.

Ser criança: privilégio de poucos
No Brasil, ser criança é um privilégio. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) completou 34 anos, mas as nossas crianças seguem expostas à fome, ao trabalho infantil e à violência. Em 2024, estima-se que cerca de 70 mil crianças vivam em situação de rua no Brasil. Muitas delas são negras, periféricas e pobres.

Essas crianças são humilhadas, agredidas e desumanizadas. Quando se revoltam, são cobradas. Quando pedem, são ignoradas. Será que, para Papai Noel, só crianças brancas e ricas merecem presentes?
Um pedido ao Papai Noel
Não é preciso descer na favela ou acender as luzes do trenó. Só peço que nossas crianças sejam protegidas — nas ruas, nas escolas, nas kombis, e até dentro de casa. Que o ECA seja mais que um papel morto; que ele preserve a infância e a dignidade de quem ainda tem o futuro pela frente.

E se você, Papai Noel, não quiser ouvir, não tem problema. Em 2024, meu Natal será revolucionário:
MEU PAPAI NOEL É REVOLUCIONÁRIO / BOTA FOGO NA PISTA / E DISTRIBUI PRESENTES PARA OS CRIAS!
Fé que o futuro pode ser menos injusto.
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