Primo de 2º Grau: O Novo Álbum de Nitcho e a Força do Underground Carioca
- Pivete
- 15 de abr.
- 14 min de leitura

Quem cola na pista sabe: tem nome novo fazendo barulho e entregando sonoridade fina no underground carioca. Nitcho, produtor brabo, lançou Primo de 2º Grau (2025), um álbum que passeia entre o ruído e a delicadeza, entre o grave sujo e o silêncio que diz muito. São nove faixas que funcionam como retrato de uma cena, de um coletivo, de um sentimento. E mais que isso: é um disco que deixa claro que fazer som é, também, fazer vínculo.
“O Primo foi uma maneira de evidenciar a galera que tava perto de mim, fazendo as mesmas coisas que eu fazia. Compartilhando os mesmos gostos musicais e de arte... Foi uma tentativa minha de reunir pessoas com quem eu tinha empatia, uma segunda família mesmo”, conta Nitcho na nossa entrevista.
E essa família tem nome e sobrenome: Luiz Barata, Eli-Z, ARPAK, Matchola, OGermano, Vici, minha tia — vozes que carregam seus próprios universos e se encaixam nos beats como peças de Lego. Soa como uma sala de estar num domingo: almoço de família, papo solto, comida compartilhada e versos divididos com afeto.

O disco abre com a certeira “Bruxo”, parceria com Luiz Barata, que já chega lançando feitiço: produção afiada, samples recortados no ponto, uma batida que te puxa pra dentro de um filme. “A letra fala que nós tá aí, trampando, fazendo mágica, ganhando centavos. Acho que representa bem o Primo de Segundo Grau — a nossa independência”, diz Nitcho.
E não larga. “3 da Madrugada” com Eli-Z e ARPAK vem carregada de clima — é como cruzar a cidade vazia ouvindo tua própria cabeça. “Traça” tem peso e crítica, “Sei Bem” emociona com uma frase que ecoa nos fones e no peito: “tá tudo bem, mesmo sem você aqui”. Já “F.O.M.O.”, com Matchola, transforma ansiedade em música: “Se você quiser sumir, me chama de mágico.”
“Quis fazer um álbum com essa estética do boombap, algo pesado e sujo, mas ao mesmo tempo acessível. Não gosto de chamar de comercial, mas é sobre conectar mais gente”, resume o produtor.

Essa tensão entre o sujo e o limpo, o denso e o leve, é uma das forças do disco. “Previsível” é minimalista, “Cássio” tem cara de trilha de filme experimental, e “Caracóis” fecha com um pé no lo-fi e outro no jazz — quase como um aceno de cabeça dizendo: “respira, a viagem acaba aqui”.
“Eu sempre fui um cara com muitas ideias, tá ligado? Nem sempre elas vêm completas. Às vezes é só um loop, uma ideia solta. Mostro pra alguém e a música toma forma na troca. Quis trazer isso: que cada faixa fosse o universo de quem tá nela.”
Nitcho produz como quem constroi colagem: coleta pedaços do mundo, mistura, reordena. É beatmaker, mas também cronista — das quebradas, das madrugadas, das ansiedades e esperanças de quem vive e sonha criando. “Minha vida é samplear tudo. Absorver igual esponja para depois cuspir o que faz sentido pra mim.”
Além do som, o visual também bate. Os clipes, as capas, os teasers — tudo foi feito pra ter unidade. O time cuidou da estética com olhar apurado: referências do cinema de rua, do grafite, da fotografia urbana. A Moca Records entrou com estrutura, o canal Músicas Pra Balançar o Pescoçin com vitrine. O que era amizade virou parceria, e o que era parceria virou movimento.
“Ninguém faz nada sozinho. O Primo é comunhão”, diz Nitcho — e é esse espírito que atravessa o disco.

Se você ainda não ouviu, Primo de 2º Grau está disponível nas plataformas — Apple Music, Boomplay, Deezer, Spotify. Mas não escuta com pressa, não. Esse álbum foi feito pra ser digerido com calma, no fone, no busão, voltando pra casa ou encarando o mundo lá fora.
Agora, chega mais, porque nesta entrevista exclusiva, Nitcho abre o jogo sobre o processo criativo, as parcerias, as referências e os próximos passos depois de um projeto que já está deixando sua marca na cena.
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Antes de mais nada, meu irmão Nitcho, quero exaltar teu trabalho. Sei que o caminho da arte é tortuoso, cheio de dúvidas, escolhas difíceis e bifurcações que a gente nem sempre entende de primeira. Mas são poucos os discos que tocam como o teu. Desde os instrumentais até a curadoria das vozes e o conceito por trás do álbum, tudo carrega um cuidado que transparece.
Nas últimas semanas, mergulhei em cada faixa com atenção e posso dizer com tranquilidade: tu entregou algo especial. É com humildade e admiração que me proponho a escrever sobre o que senti, compreendi e curti nesse projeto.
Obrigado por esse trabalho e, principalmente, por reservar um tempo pra responder essas perguntas.
Observação: A entrevista foi conduzida por Nicoputodaglock, do canal MPBP – Músicas Pra Balançar o Pescoçin, que gravou as respostas de Nitcho a partir das perguntas enviadas por Pivete, para a Revista Menó. Por isso, ao longo do papo, Nico também aparece como interlocutor, para deixar a conversa mais fluida.
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Pivete: Do conceito às ruas: como nasceu a ideia de fazer um segundo volume? Foi um plano desde o início ou a recepção do primeiro álbum te levou a expandir a ideia?
Nitcho: Então, não... a ideia de fazer um segundo volume não existia desde o começo. Mas eu senti que o primeiro álbum tinha iniciado algo que ainda não tava concluído, sabe? A gente começou esse projeto com uma intenção, uma visão, e no meio do caminho percebi que ainda tinha coisa pra dizer, pra mostrar.
Pra explicar direito, acho que preciso voltar um pouco e falar do conceito do primeiro. O “Primo” surgiu como uma forma de evidenciar quem tava perto de mim—gente que compartilha das mesmas referências, do mesmo corre, dos mesmos sonhos. Era sobre reunir uma galera com quem eu tinha afinidade artística e pessoal, e criar uma coletânea de sons que representasse isso. O "Primo" veio desse sentimento de família construída na caminhada.
Com o tempo, esse laço foi ficando cada vez mais forte, quase uma família real mesmo. E aí veio naturalmente a vontade de ampliar isso. O “Primo de Segundo Grau” nasce dessa expansão, dessa vontade de abraçar mais gente que compartilha dessa mesma sintonia.
Nico: E tu já tinha uma conexão com essa galera toda, tanto do primeiro quanto do segundo projeto? Ou essa proximidade foi surgindo no processo?
Nitcho: Foi chegando aos poucos, pela música. Tu conhece alguém que conhece outro alguém que rima, ou que produz… e aí os caminhos se cruzam. A conexão vem dessa troca.
Sempre falo: sinto que tenho um primo perdido em todo lugar. Todo mundo tem. E quando a gente encontra essas pessoas com quem rola identificação, com quem dá pra construir junto, a gente reconhece. Tem o mesmo sonho, compartilha ideia, cria junto. Foi assim que o "Primo de Segundo Grau" surgiu—como uma forma de continuar essa rede.
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Pivete: No PRIMO tu já mostrou uma curadoria fina nas colaborações. E no PRIMO DE 2° GRAU, como foi o critério pra escolher quem ia entrar?
Nitcho: Cara, foram artistas que eu admiro muito. Gente que eu queria por perto, que eu queria nesse clã que a gente formou. O critério foi justamente esse: pessoas com quem eu já tinha contato real, com quem a troca era possível. Não fui atrás de nomes inalcançáveis—quis valorizar quem tá por perto, muitas vezes passando batido. Às vezes teu vizinho é um artista cabuloso e tu nem percebe. Então foi isso: uma curadoria espontânea, que nasceu do convívio e da admiração.
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Pivete: E o processo criativo das faixas, como rolou? Tu já tinha os beats prontos e foi chamando geral ou as músicas foram tomando forma na troca?
Nitcho: Foi dos dois jeitos. Eu sempre tenho um monte de ideia rolando, mas nem sempre ela vem completa, tá ligado? Às vezes era só um loop, mostrava pra alguém e já surgia uma barra, uma melodia… e dali a gente construía junto. O que eu queria era isso: que cada faixa refletisse o universo do artista que tava ali.
Nico: Tipo os beats do Luiz, né? Acompanhei esse processo. O beat já existia, mas sempre rolava um ajuste ali, outro aqui. O resultado final era sempre colaborativo.
Nitcho: Total. E teve faixa que encaixou tão bem que nem mexi em nada. Tipo a do Matchola. Mandei o beat e ficou do jeito que ele botou. Foi direto.
Nico: Mas ele é...
Nitcho: O melhor! Já chego nessa parte.
Nico: E o “Bruxo” também, né?
Nitcho: Exato. Desde a primeira guia, quase não mexi.
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Pivete: Tu tem uma assinatura forte nos beats. Quais foram as principais referências sonoras pra esse disco?
Nitcho: Cara, referência é sempre base de tudo. Tem vários produtores que me inspiram muito, que têm uma estética que dialoga com o que eu busco. Um deles é o Knxwledge—não sei se geral conhece. Ele é do grupo NxWorries com o Anderson Paak. Mano, ele é o rei da textura. O cara é um mago dos timbres, traz uns elementos que parecem fora do lugar, mas encaixam de um jeito absurdo. Quis trazer esse orgânico mais sujo pro álbum, algo fora da caixinha mas ainda com sentido.
Tem também o Alchemist, a galera da Griselda, o Conductor... Sou fã demais! A ideia foi misturar esse boombap pesado de fora com nossa identidade daqui. Nossos tempos, nossas referências.
Nico: E fora do rap? Tem alguma referência?
Nitcho: Mano, com certeza tem. Mas nunca parei pra pensar nisso diretamente. Às vezes tu nem percebe que tá se inspirando. É tudo absorção. Minha vida é samplear. Eu vou captando tudo que mexe comigo, depois jogo no som do meu jeito.
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Pivete: O Novo Rap Carioca tá fervendo. Como tu enxerga a cena hoje e onde o PRIMO DE 2° GRAU entra nesse contexto?
Nitcho: Vejo uma cena muito viva, mano. Tem muita gente boa surgindo, especialmente no underground. Uma galera com influências parecidas, trazendo esse rap mais sujo, mais cru, que dialoga com o que eu tô fazendo—tipo um Griselda tupiniquim.
E nesse cenário, acho que o “Primo” traz a bandeira da autenticidade. Hoje em dia, ser independente exige verdade. Muita gente tenta seguir fórmula, copiar o que tá bombando. Mas eu acho que o lance é ser original, mesmo que isso te leve por um caminho mais difícil. Faço música pra mim primeiro. Pela arte.
Nico: Porque é isso, né? A indústria dita tendência, e quem tá por fora tem que ralar dobrado. Se teu som lembra alguém famoso, o público vai atrás do famoso.
Nitcho: Exato. Por isso tem que ser honesto com o que você faz, com quem tá contigo. O que importa é expressar. Mostrar tua verdade.
Nico: E tu falar de "Novo Rap Carioca" é maneiro demais. Porque não é só boombap raiz. É outra parada. Tu resgata textura analógica, cria algo novo.
Nitcho: Total. Não é boombap clássico, nem tenta ser. É um som que nasce da sujeira, dos silêncios, das imperfeições. É ali que mora a personalidade. A música não tá na limpeza—tá no erro.
Nico: Mas é o erro bom, né?
Nitcho: Claro! Tem que assumir o erro. Ninguém tá aqui pra ser perfeito.
Nico: Ouviram, né, crianças?
Nitcho: Ouviram! Qual é a próxima?
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Pivete: “F.O.M.O.” foi escolhida como faixa-foco. O que faz essa música se destacar dentro do álbum? Tem alguma história por trás dela?
Nitcho: Então, na real, essa escolha nem partiu de mim. Eu amo essa faixa, mas quem puxou isso mesmo foi o Matchola. O moleque é brabo demais. Ele conseguiu trazer melodia pra dentro da sujeira, e isso é exatamente o que eu busco.
A ideia era fazer um disco com essa estética boombap, sujo, pesado, mas que também fosse acessível, que tivesse musicalidade. Não é sobre ser comercial, mas sobre tocar mais gente. E o Matchola entregou isso de um jeito absurdo. Tem até uma vibe meio Outkast, tá ligado?
Foi a faixa mais tranquila de fazer. Mandei o beat em loop e ele fez tudo—letra, melodia, mix, master. Transformou num som vendável sem perder a essência. Por isso que ganhou esse destaque. É mérito dele demais.
Nico: Mano… o maior que temos. Sem erro.
Nitcho: É isso. Foi a mais fácil do disco. Eu só disse: “Faz tua arte.” E ele fez. Ficou lindo. Obrigado, Matchola. Tu é monstro.
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Pivete: Uma das paradas que mais chamou atenção foi a tática de soltar as faixas antes do lançamento oficial. Que resposta tu sentiu do público com isso?
Nitcho: Cara, antes de tudo, preciso agradecer o Nico, o “puto da Glock” do Músicas para Balançar o Pescocinho. Foi ali que tudo começou. Não foi exatamente uma estratégia pensada, mas acabou virando uma parada essencial.
Fazer um trampo autoral e soltar assim, cru, exige coragem. E o canal foi esse laboratório: pra testar a recepção, ver se tinha alguém no mundo com sintonia com o que a gente tava fazendo. Tipo... se tinha primo perdido por aí, sacou?
O Pescocinho virou um alto-falante. Foi o lugar onde a gente percebeu que esse disco precisava existir. Tanto a recepção do primeiro “Primo” quanto desse segundo volume vieram muito desse canal. Então, sim, foi diferencial total. Fundamental mesmo.
Nico: O mais doido é que não foi nada planejado, né? Mas não teve como ignorar o que tava acontecendo. Tinha gente pedindo “Bruxo” todo dia.
Nitcho: Direto.
Nico: E a gente lá: sem data, sem previsão… e o povo pedindo sem parar. Isso mostra que a galera se conectou de verdade.
Nitcho: Total. E acho que o álbum inteiro anda com essas músicas que já tinham vida antes mesmo de lançar oficialmente. O canal ajudou demais nisso. Furou a bolha. Foi importante não só pra mim, mas pra outros também—tipo O Menor, a Crise 3, Recordes... geral que tá fortalecendo a divulgação independente.
Nico: E, mano, o recado é esse mesmo. Se você que tá lendo (ou ouvindo) também cria, não precisa ter medo. A insegurança sempre vai estar ali. Mas alguém vai entender tua arte, alguém vai dar um novo sentido praquilo que tu fez. Acreditar nisso é difícil, mas é necessário.
Nitcho: Pescocinho fez isso por mim. Foi o espaço onde a gente testou tudo, onde deu pra sentir que valia a pena continuar. Simbora.
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Pivete: O primeiro Primo tinha 7 faixas. Esse veio com 9. O que motivou esse aumento? Era pra ter mais? Ou esse foi o corte final ideal?
Nitcho: (risos) O que motivou? Não sei dizer exatamente.
Nico: Eu sei que era pra ter mais. Tu queria colocar mais coisa, mas teve faixa que não ficou pronta a tempo. Teve música que chegou depois de o álbum já estar upado, né?
Nitcho: Isso mesmo. Eu sou movido a criar. Tô sempre com várias prévias, ideias inacabadas, coisas que quero fazer melhor. Então, com certeza, poderia ter sido maior. Mas 9 foi o número que fez sentido no fim. Tinham faixas que não cabiam fora desse projeto. Outras entraram na reta final, porque rolou de um jeito natural.
Nico: Também tem o lance da curadoria, né?
Nitcho: Total. Eu sigo aquela filosofia: faço 20 músicas, separo as 10 melhores, e dessas, escolho as 7, 8 ou 9 que realmente fazem sentido juntas. É mais sobre coesão do que quantidade.
Nico: Essa pergunta nem tava no roteiro, mas me veio aqui: “Traça” e “Caracóis” saíram antes do Primo de Segundo Grau, e depois acabaram entrando no álbum. Isso já era o plano? Ou nessa época tu ainda nem pensava nessa continuação?
Nitcho: Cara, na real, a ideia do Primo de Segundo Grau começou justamente com “Traça”. Essa faixa representa demais do que eu venho tentando fazer com a música. A gente fez ela num ritmo muito natural—em uma semana gravamos, na outra já saiu o clipe, e logo depois tava na rua. Foi tão fluido que acendeu o estalo: “esse som pode ser o ponto de partida para algo maior”.
A partir dali, outros singles como “Caracóis” ajudaram a desenhar o cenário do disco. Fortaleceram minha parceria com OGermano e mostraram esse passo que eu estava dando, tanto na estética quanto na maturidade musical. Foi ali que o projeto começou a tomar forma.
Nico: Isso é doido, porque se tu parar pra pensar, as músicas do Primo e do Primo de Segundo Grau têm vibes bem diferentes. Tu acha que entrou numa nova fase?
Nitcho: Também acho. Mesmo sendo uma continuação, é outra pegada. Não ficou preso à estética do primeiro. Rolou uma evolução natural.
Nico: Dá pra sentir. Tem umas faixas mais ousadas, outras mais viajadas. E isso é maneiro demais.
Nitcho: Sim, é continuação e crescimento ao mesmo tempo. O projeto amadureceu junto comigo. Me deu confiança pra explorar novos caminhos, testar outras ideias.
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Pivete: Moca Records e Músicas pra Balançar o Pescoçin tão no corre contigo. Como essas parcerias deram ainda mais força pro disco?
Nitcho: Força total, mano. Porque ninguém constrói nada sozinho. O Primo é coletivo. Já falei sobre o papel do Pescocinho, que foi essencial pra tudo isso acontecer. Mas agora falando da Moca...
Nico: Antes disso, acho massa tu contar qual é tua relação com esses dois corres. Explica como essas parcerias nasceram.
Nitcho: Minha relação com o Músicas pra Balançar o Pescocinho começou num evento de rap. A gente se conheceu lá, os gostos bateram logo de cara. O Nico tava começando o projeto, querendo dar visibilidade pro som da galera underground. Ele teve essa ideia de soltar prévias, fugir dos bloqueios do YouTube... Achei genial. Ele já tinha ouvido algumas faixas minhas, sabia que eu tinha material guardado. Aí casou.
Hoje sou totalmente parceiro do canal, com orgulho mesmo. Porque é um movimento necessário. Muito do que conquistei veio desse corre. A gente se fortalece. Somos amigos, quase sócios. Pode nem ter cargo, mas tamo no mesmo barco.
Nico: É isso! E o mais louco é que começamos quase ao mesmo tempo, né?
Nitcho: Sim. O primeiro Primo saiu em dezembro de 2023, e o canal nasceu em fevereiro de 2024.
Nico: Dois meses de diferença. Eu lembro o dia em que te descobri. Fiquei doido. “Tem que colar com esse cara.” E deu certo.
Nitcho: A gente se entendeu rápido porque queríamos a mesma coisa: fortalecer nossos eixos, dar luz pra quem tá na correria e tem talento de sobra. Eu tava produzindo, fazendo set, e o Nico veio com essa ideia de vitrine. Casou demais.
Nico: É como se fizéssemos o mesmo trabalho, só que em frentes diferentes.
Nitcho: Exatamente. Um produz, o outro mostra. Mas o objetivo é o mesmo. E isso vale ouro. Vida longa pra esse corre.
Nico: E a Moca, como entra nisso tudo?
Nitcho: A Moca surgiu de forma muito natural. É uma gravadora que nasceu entre amigos. O Leborato, que é meu parceiro de longa data, sempre teve uma visão boa dessa parte burocrática—lançamento, selo, estrutura.
A gente já fazia som junto, vivia se ajudando. E aí foi se formando um núcleo. Junto com ele, o Vici, Vasconcelos Sentimento e Arpak, a gente entendeu que dava pra criar nosso próprio selo. Algo nosso, pra não depender de ninguém. Foi essa união que virou a Moca.
Desde então, tão comigo em tudo. Eu foco em criar, odeio pensar em burocracia, e o Leborato sempre me deu suporte. Hoje sou fechado com eles mais do que nunca. Do nada, a gente olhou e disse: “Caralho, temos uma gravadora.”
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Pivete: Agora imagina que alguém nunca ouviu nada teu. Qual faixa do Primo de Segundo Grau tu mostraria primeiro?
Nitcho: Cada som tem seu universo, mas se for pra escolher uma, é Bruxo. Muito por mérito do Luiz. A letra é direta: tamo trampando, fazendo mágica com centavos. Fala da nossa independência. Do corre mesmo. Bruxo representa o disco inteiro.
Nico: E é logo a primeira faixa, né?
Nitcho: Com certeza. Já chega dizendo a que veio.
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Pivete: E agora, qual o próximo passo do Nitcho? Já tem coisa no forno ou é hora de curtir o momento?
Nitcho: Os dois. Preciso deixar o disco respirar, espalhar ele pelo mundo, porque são dois álbuns na pista. Mas também tem muita coisa pronta. Um trilhão de sons engatilhados. Agora é hora de pensar em como fazer os sons chegarem mais longe.
Nico: Sempre tem coisa vindo, né?
Nitcho: Sempre. A cabeça não para. A ideia é continuar criando, buscar mais colaborações, conhecer outros talentos. Quero lançar mais feats, entrar nos projetos dos outros, expandir geral.
Pivete: Pra encerrar: o Primo de Segundo Grau é um disco pra que hora do dia? Metrô de manhã? Resenha de noite? Ou bate em qualquer momento?
Nitcho: Depende da vibe, né? Mas pra mim, é aquele som de fim de tarde, voltando do trampo. Aquele momento em que tu tá cansado, mas ainda precisa de força pro dia seguinte. Ele vem como um respiro depois da guerra.
Nico: Povo bonito!
Nitcho: É isso!
Nico: Fechou, mano!
Nitcho: Já é! Satisfação total.
Nico: Manda um salve final aí.
Nitcho: Salve pro Leborato, pro Dog Caos que sempre acreditou em mim, pro pessoal do corre do rap, pra minha mãe, pro meu gato Cleiton Rasta…
Nico: E pro Pivete!
Nitcho: Salve pro Pivete e pra todo mundo que fortalece os independentes. Cês são nossos primos perdidos também. Tamo junto, simbora!
Nico: Salve!
Nitcho: Os!
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