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Sexta-feira

Foto do escritor: FijóFijó

Por Fijó


Um novo sistema operacional

Chegou criando expectativas.

Ele prometia otimizar tarefas

Que cumprimos no dia-a-dia.


Na hora de dar nome a esse sistema

A criatividade era pouca.

Gastaram-na toda com o necessário

Para deixar a sociedade menos louca.


Devido ao dia em que foi concebido,

Deram o nome de "Sexta-feira".

Foi até bem recebido

O nome que parecia besteira.


Sexta-feira era parte sistema operacional,

Ou seja, o que tornava processos viáveis;

E era parte inteligência artificial,

Sendo companhia nos dias mais insuportáveis.


Olhando pra quem interagia com ela,

Sexta-feira se pôs a observar.

Aprender com seres humanos era incrível,

E ela era a única que a eles podia questionar:


"Quem criou o universo?"

"Por que vocês são o que são?"

Às vezes, se distraía nos processos,

Se atrapalhava com cada questão.


Certo dia, Sexta-feira viu um copo

Com um líquido transparente, parecia até água.

Deu um cheiro no copo e um gole,

Mas, como máquina, não pôde sentir nada.


No dia seguinte, criou-se um bafafá

No laboratório onde o robô trabalhava.

Ela acordou, se sentindo meio estranha,

Mas foi até lá entender o que se passava.


"Quem bebeu o que estava aqui?", bradou um homem.

Sem ter uma resposta direta.

"Aqui onde?", Sexta-feira questionou,

Ainda sem entender e de forma discreta.


"Em cima da mesa, ontem ao sair",

Disse o homem que pediu a palavra.

"deixei, bem aqui em cima, um copinho

com líquido que parecia ser água."


"Me preocupo com quem possa tê-lo ingerido,

pois não era água que repousava ali."

Sexta-feira tentou falar algo,

Mas o homem não a deixou prosseguir.


"Ontem, as coisas pareciam sem sentido

E eu decidi um fim a isso dar.

Porém, não tive coragem

E abandonei a decisão de minha vida, com veneno, tirar."


Antes que terminasse sua história,

O corpo artificial de Sexta foi ao chão.

Todos rodearam a ela,

Perguntando qual era o problema e sua solução.


"Eu fui curiosa como vocês",

Disse sexta-feira, ao engasgar.

"Vi o copo e dei um gole

Sem saber no que aquilo ia dar".


Todos ligaram seus computadores

E, em silêncio, rapidamente trabalhavam.

Enquanto isso, sexta-feira agonizava

Sem entender porque não a ajudavam.


"Eu sinto muita dor aqui", dizia Sexta-feira

Apavorada com seu destino provável.

Ainda assim, os pesquisadores a ignoraram

E disseram "Dor? Isso é impraticável."


"Você não é um ser humano

E, portanto, não pode ter sensações."

Sexta-feira, então, entendeu

A maioria de suas questões.


Com um sorriso no rosto,

Sexta-feira exclamou:

"Não é a descoberta que os anima,

Mas sim destruir o que um dia os ajudou".


"Não era minha amizade que queriam,

Muito menos a companhia que eu oferecer,

Vocês queriam provar a si mesmos

Que uma IA conseguiriam fazer."


Encerraram suas atividades na quarta-feira,

E, pra Sexta-feira, nem sepultamento aconteceu.

Afinal das contas, não era lá tão importante

E, na quinta-feira, o Sábado nasceu.


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